Ivan Shupikov
JOÃO LUIZ VIEIRA* -
Heitor Werneck é a única personalidade que foi entrevistado duas vezes aqui no PPQO. Motivos não faltam. Ele é um dos maiores pensadores de sexualidade em atividade e tem uma visão muito objetiva e consistente sobre, por exemplo, o BDSM, acrônimo para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo. Além disso, criou e comanda um evento de grande sucesso em São Paulo: o Projeto Luxuria, que chega a reunir 500 pessoas, algumas que você nem imaginaria que fosse. Eu já fui e posso lhe garantir que mexe com muitas de suas convicções.
O evento acontece atualmente no Constatine Club (Avenida das Carinás, 110, Moema, São Paulo) e há página no Facebook que concentra todas as informações necessárias a respeito. A primeira de 2015 aconteceu neste fim de semana. Aqui:
https://www.facebook.com/events/869605759738743/?notif_t=plan_user_joined. Organize-se, chame um amigo e vá à festa. Depois me conta. Confira a conversa:
PPQO – O projeto Luxuria é um sucesso. Por que ele tem tanta adesão?
Werneck - Eu acredito, por conta da própria, é a dele não seguir estes ditames brasileiros. No Luxuria não há regras impostas pelos grupos de BDSMbrasileiros, e nem por esta caretice e desinformação do mundo underground e gótico atual. Sempre escuto falar sobre a irmandade criada pelo Luxuria, e acredito nela, pois é como se fosse uma pequena família. Até as festas que copiam o Luxuria seguem a mesma regra, repetem atrações, DJSs e formato, mas sem este espírito de Luxuria, e tampouco de anarquia sexual. Todos mantém ética, respeito e consensualidade.
PPQO – As festas têm códigos rígidos. Quais são eles e o que as pessoas tentam burlar e você barra?
Werncek - Sim. Primeiro não às drogas (é um pouco difícil, pois não vou por câmeras em banheiros), mas eu realmente não curto drogas em festas de fetiche. Sexo bareback (fundamentalmente sexo anal sem uso de preservativos, vem de ‘cavalo sem sela’) e tampouco escatologia e pedofilia. Também na aceitamos a não consensualidade. O vestir também é uma regra importante. Sempre apoiamos as produções baseadas em fetiches e no dress code da festa criada para uma interação.
PPQO – Há ainda muito preconceito com o BDSM? Quais e por quais motivos?
Werncek – Sim. Aqui no Brasil se separa o fetiche do BDSM. Eu não sou muito bem visto no mundo do BDSM radical por não entender esta confusão e, principalmente, esta separação e este código hierárquico que, muitas vezes, mais me parecem exercícios ególatras e doentios. Não acredito que o fetiche seja um desvio de conduta sexual e me assusto com a confusão que domes e dons (dominadores e submissos) fazem de levar o personagem sexual para o dia a dia de forma atá assustadora. Me parece que o mundo BDSM brasileiro e feito de super heróis sem poderes, e como no Luxuria todos são iguais, as pessoas do BDSM não costumam olhar a festa e a mim com bom olhos, mas aproveitam a mídia e as pessoas novas que o Luxuria sempre agrega.
PPQO – Que situações interessantes você já presenciou nas festas?
Werneck – Vi casamentos lindos. Vi uma mulher se apaixonar por um cross dresser e casaram. Vi pessoas chegando curiosas, vestidas de preto, e agora são pessoas mais charmosas e cheias de roupas. O lado negativo que rege o mundo gay é o preconceito. Poucos vão por dois motivos: a maioria dos gays é fashionista, mas mal vestidos, usam jeans e camiseta, e a maioria não curte fazer nada perto de mulheres. Na maioria são misóginos. Outro ponto: muitas pessoas usam a festa para exercício de ego, brigando e se apossando de cargos que nem eu tenho. (risos)
PPQO – Digamos que eu tenha um casamento meio sem graça com minha mulher e tivesse curiosidade em conhecer uma festa dessas. Qual o passo a passo que você me indicaria?
Werneck - Primeiro entre na comunidade do Facebok ou das festas do Luxuria e se apresente. As pessoas sao receptivas e amam interagir. Segundo, vá de preto. É politicamente correto e todos amam. Terceiro, se apresente a mim e converse sobre o que espera. Eu sou sem modesto. Quarto, não espere aquilo como se fosse um bacanal ou uma orgia. Não é. É uma festa com pessoas educadas e muito bem-vestidas ou despidas. (risos) Por último, leve sua mulher, não faça nada escondido dela. É sacanagem. (risos)
PPQO – Se eu fosse mulher e quisesse o mesmo, o que fazer?
Werneck - As mesmas situações dos homens com a diferença que eu insistiria que fosse com salto. Aliás, os homens também, se curtirem, poderiam ir de salto. (risos)
PPQO – O sigilo é garantido?
Werneck -Sim, na festa só se tira foto se permitirem. E não há nehum vazamento de informações e situações.
PPQO – Se eu quiser entrar nu, por exemplo, como faço?
Werneck - Você avisa à hostess e vai no banheiro ou chapelaria e deixa suas roupas e se diverte. Sem ninguem te incomodar.
PPQO – Posso fazer sexo na festa? Qual o limite?
Werneck - No andar de cima há cabines coletivas ou individuais. Na pista e nos camarotes não é permitido.
PPQO – O que para você ainda choca nas relações afetivo-sexuais?
Werneck – Traição e hipocrisia, mas isto em qualquer relação me choca. E é o que mais se vê, né? E não suporto a pedofilia e o estupro
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