segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Literatura erótica - matéria Ricardo Setti

Depois da explosão de “Cinquenta Tons…”, há muito mais (boa) literatura erótica para ler. Seis escritoras dão seis dicasTexto de Luciana Ackermann, publicado em edição impressa da revista Lola

SEIS TONS DE OUTRA COISA
O mundo do erotismo não exclui o da boa literatura. Seis escritoras brasileiras indicam títulos em que esses encontros acontecem
Em pouco mais de seis meses desde seu lançamento no Brasil, a trilogia formada pelos romances Cinquenta Tons de CinzaCinquenta Tons Mais Escuros e Cinquenta Tons de Liberdade, da britânica E. L. James (Intrínseca), bateu em 3,5 milhões de exemplares vendidos. No mundo, o número está na casa dos 70 milhões – é mais gente, por exemplo, do que toda a população da Grã-Bretanha.
Mas, como se sabe, depois do ápice vem um certo vazio: o que essa multidão ávida por narrativas picantes vai ler agora? Não é preciso esperar outro arrasa-quarteirão: sensualidade e erotismo estão espalhados em bons livros, muitas vezes fora da classificação habitual de literatura erótica.
A pedido de Lola, seis escritoras indicam títulos, clássicos ou não, em que se pode explorar esses universos de desejo secretos – uns até obscuros.
PORNOGRAFIA – Witold Gombrowicz (Companhia das Letras, 2009)
“Um homem de meia-idade passa a observar um jovem casal e a construir, a partir de gestos e insinuações, uma narrativa que, mais do que corresponder à realidade, serve para manter vivo seu próprio desejo. O romance não é exatamente um exemplo do gênero, mesmo assim tem a rara felicidade de desvendar as leis do erotismo e seu mecanismo de funcionamento. Em suma, tudo está na imaginação.”
Adriana Lunardi, autora de VésperasA Vendedora de Fósforos, entre outros



DELTA DE VÊNUS — Anaïs Nin (L&PM, 2005)
“A linguagem do sexo ainda está por ser inventada. A linguagem dos sentidos ainda está para ser explorada.”
Isso Anaïs Nin escreveu em fevereiro de 1941, há 72 anos – e a carência permanece.
Há muito tempo não surge alguém como ela, capaz de reunir sexo, força, elegância, música, paixão, curiosidade e poesia em um mesmo estilo.
Em Delta de Vênus, há dois exemplos interessantes de contos em que o protagonista é homem, “Manuel” e “O Aventureiro Húngaro” – delícia de textos. Neles, não há timidez nem apelo à orgia para fingir um erotismo forçado, uma liberdade que poderia parecer falsamente pornográfica ou caricata.
Anaïs fazia do seu jeito: uma junção poética de sentimento, liberdade, sexo e perfume – os textos dela têm cheiro e sabor. E cores, muitos tons diferentes além do cinza aborrecido.”
Claudia Nina, autora do recém-lançado romance Esquecer-te de Mim

LOLITA — Vladimir Nabokov (Alfaguara, 2011)
“O romance me fez entender uma faceta do desejo masculino. No caso, um desejo reprovável e terrível, que só a literatura consegue trazer à tona com liberdade.
Como se trata de alta literatura, o autor consegue fazer o leitor torcer pelo ato, acompanhando aquela obsessão convencido de que o personagem precisa daquilo.
É um desejo avassalador, incontornável. Quando acontece o ato, você não tem mais dúvida de que é uma criança. O cinema não teve essa coragem. É evidente que abomino homens que transam com crianças, claro, aqui a questão é que a literatura transforma chumbo em ouro e tem o dom de colocar o leitor onde ele jamais estaria. Ao terminar o livro, só pensei que se tratava de uma obra-prima!”
Andréa del Fuego, autora de Os Malaquias, entre outros

PORNOPOPEIA — Reinaldo Moraes (Objetiva, 2009)
“Livros eróticos a gente acha de monte, mas este foi o livro mais incrivelmente erótico que li. Não é um livro quadrado, e muito menos com sexo como tema central. Não é nada romântico, não é pornográfico.
Na verdade, a história é suja, envolve drogas, sexo e, por causa disso, muito humor. Vale muito a pena pela ousadia e pela história, que dão o `incrivelmente’ ao erótico.”
Luisa Geisler, autora de Contos de Mentira e Quiçá


A CHAVE DE CASA — Tatiana Salem Levy (Record, 2007)
“Uma jovem que viaja para Portugal e para a Turquia (e a Turquia nem existia em novelas) a pedido do avô, levando a chave da casa que o título anuncia. É um misto de relato de aventuras, de exercício de perdas e de sofrimento físico e moral.
Mas, acima de tudo, o livro transpira erotismo: todos os sentidos são convocados e há belas, e fortes, descrições de sexo. Algumas cenas são literalmente arrebatadoras.”
Cíntia Moscovich, autora de Arquitetura do Arco-Íris e Essa Coisa Brilhante Que é a Chuva, entre outros


O COMPLEXO DE PORTNOY — Philip Roth (Companhia das Letras, 2004)
“Foi o livro que mais mexeu comigo. É muito real, você vê o personagem vivendo tudo aquilo. Você se sente ele.
Eu me senti um homem lendo. Foi incrível. Tem uma riqueza de detalhes íntimos e neuróticos sem nenhuma vergonha, sem pudor.”
Tati Bernardi, autora de livros como A Mulher Que Não Prestava e A Menina Que Pensava Demais


Coluna do

Ricardo Setti

 

- http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/erotismo/

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