segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Matéria Heitor Werneck



JOÃO LUIZ VIEIRA - 
Heitor Werneck é uma figura singular. Difícil conhecer dois. Estilista que marcou época com sua grife, Escola de Divinos, ele ganhou cicatrizes ao longo do tempo. Passou por problemas pessoais que pouca gente aguentaria encarar. Ele não só encarou, como se reinventou, deu várias voltas em torno do abismo, mas não caiu.
Hoje tem um projeto de impacto, o Luxúria, que promove o encontro de praticantes do sadomasoquismo em São Paulo. Entende tudo do assunto e, por estranho que possa parecer para a maioria, é uma relação muito lúcida e responsável entre pessoas que aceitam tal proposta. Enquanto boa parte faz sexo “espontâneo”, sujeito a sustos, quem chega em suas festas já sabe o que vai dar e receber. Werneck falou ao PPQO.
PPQO – O que é um fetiche sexual?
Werneck – Fetiche sexual  é uma forma de conhecimento do próprio cérebro. E o corpo e suas necessidades para apimentar o ato sexual. O fetiche sexual é o molho da salada. Com ele, os alimentos têm um gosto especial.
PPQO – Quais os mais conhecidos e praticados? Há algum ‘ilegal’?
Werneck – O fetiche mais praticado e conhecido por todos é a podolatria, e o ilegal é a pedofilia.
PPQO – Em que categoria se encaixa o sadomasoquismo e que papéis precisam
ser definidos na prática?
Werneck – O sadomasoquismo, quando feito consensualmente, não é uma perversão, uma filia. Ele pode ser considerado como um fetiche e pode ser praticado de muitas formas, suavemente ou até com práticas mais pesadas. Tudo isto é feito e averbado numa conversa ou num jogo sexual. E a prática dele nem sempre resulta num ato sexual.
PPQO – Fetiche é relação de amor, de sexo ou é um jogo?
Werneck – Para mim é um conhecimento do próprio corpo e o que o seduz. É autoconhecimento. Fetiche vem da palavra fetisso, que quer dizer encantamento, feitiço, sedução. Para mim é amor próprio. E se você se ama é capaz de amar ao próximo.
PPQO – Em situações como essa o que é fundamental, estabelecer regras prévias?
Werneck – Toda regra num relacionamento deve ser falada e respeitada. Num relacionamento, como o SM, por exemplo, é essencial saber se o outro te respeita, se ele não segue as regras. Como se sujeitar a conviver com uma pessoa que não respeita os limites impostos?
PPQO – Acredita que o sexo espontâneo, digamos assim, tem menos chance de ir longe exatamente porque não se estabelecem regras prévias?
Werneck – O sexo espontâneo tem sua característica. Se uma pessoa tem capacidade de transar rapidamente sem tirar a roupa, por exemplo, ela tem fetiche disso. Senão, ele não se adaptaria e faria este tipo de sexo. Tudo é feito de acordo com  a necessidade. O corpo reage a impulsos do cérebro. A excitação é cerebral, então independe de ele ser feito num elevador ou numa cela. Ele reage a impulsos, ou seja, mesmo que não usem a palavra, todos somos fetichistas.
PPQO – Como você define os adeptos do sadomasoquismo? Falo sobre gênero, orientação sexual, classe social, tempo de vida a dois.
Werneck – O sadomasoquismo é uma forma de fetiche muito difundida até em músicas. Entre Tapas e Beijos, por exemplo. (risos) Todos  praticam esta forma de dominação ou submissão há sempre um ativo e um passivo. Isto é da natureza sexual do animal,  racional ou não, heterossexual, homossexual ou bissexual. Enfim, de qualquer gênero e educação sexual.
PPQO – Depois que se pratica sadomasoquismo qualquer outra relação mais “tradicional” perde o sentido?
Werneck – Discordo. Talvez a experiência de viver uma relação ou um ato sexual baseado em SM se torne marcante , mas não que ela seja uma verdade. Pode se realizar sexo com outros fetiches ou até com outras taras. Depende da pessoa e de sua necessidade sexual. O importante é viver a sexualidade de forma verdadeira, sadia e consensual.
PPQO – Conta mais sobre seu papel nessas circunstâncias?
Werneck – Sinto a necessidade de ser feliz e gosto de ser feliz, sendo servido de forma natural. Não gosto de ver gente querendo ser humilhada. Não acho humilhante ver uma pessoa lambendo meus pés, acho que está gostando. Se ela fizer isto contra a vontade dela, se não ver que ela tem tesão, eu paro. Quando eu me suspendo, me anestesio com o que sinto, mas não venham me dar uma chicotada. Odeio dor, mas adoro chicotear os outros, e ver a esposa se divertindo com aquilo. Meu papel é de uma pessoa que ama fazer e sentir tesão. De qualquer forma.
PPQO – Por fim, sexo é um jogo?
Werneck – Sexo é uma necessidade do corpo. Se a necessidade para alguns é um jogo, que ele seja realizado. Para mim sexo é consequência de preliminares, tanto cerebrais quanto físicas. E ele pode ser realizado a um, a dois, a três, a quatro  ou até mentalmente, desde que de forma segura e consensual.


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