domingo, 15 de junho de 2014

As Complementariedades Sexuais: Até Onde Isto Vai?



Freqüentemente encontramos textos que falam dos sádicos e dos masoquistas, os quais acabam originando um termo que agrega os dois: sado-masoquistas. A literatura séria nos demonstra, com dados científicos, conceitos e argumentos, que não há um sem o outro, ou seja, não há o que gosta de sofrer se não existir aquele que tem prazer em gerar sofrimento. Nos dois casos, há um elemento comum: encontramos associados prazer e dor. Embora com dinâmicas diversas, estão ali presentes, sem nenhuma dúvida, estes dois elementos. Supõe-se que, em algum momento da vida destas pessoas, fez-se e cristalizou-se a associação prazer-dor-sexo. Não há de ser por acaso, portanto, que se formem pares, ou casais, que apresentam os dois elementos: o sofredor e o outro, que gera sofrimento; o que podemos supor? que se atraiam? Talvez, além disso, que dependam um do outro. Este é um assunto já bastante debatido, o qual utilizo apenas para introduzir um outro tema:
Não haverá, freqüentemente, uma complementariedade entre os ‘modos de fazer sexo’? As disfunções sexuais não serão, também elas, complementares?
Vejamos: é inevitável que na prática clínica, ao entrevistarmos alguém que refere uma disfunção sexual, seja abordado o comportamento sexual e a resposta afetiva correspondente do parceiro ou da parceira de quem nos consulta. Chama a atenção que muitas vezes um homem que sofre de disfunção eretiva – que não consegue permanecer ou manter um estado de ereção do pênis por tempo suficiente para levar a relação sexual a um resultado satisfatório – acabe por nos relatar que sua parceira (ou parceiro) não ’gosta muito’ de ter relações sexuais, que de diferentes formas, às vezes mais explícitas, outras vezes de forma camuflada, demonstra que tem seu desejo sexual inibido, ou diminuído.
O que surgiu primeiro? O ovo ou a galinha? É comum que as pessoas julguem, apressadamente, que a “culpa” recai sobre o homem, pois se ele não consegue dar prazer a sua companheira(o), gera uma aversão pelo ato sexual insatisfatório.
Pronto: temos um culpado, um vilão, e será sobre ele que deverá cair toda a responsabilidade pelo insucesso da união; da mesma forma, se alguém precisa de tratamento, é ele, certo? Errado. Vamos tentar fazer o papel de advogado do diabo: se o parceiro ou parceira apresenta ausência ou diminuição do desejo, como se sentirá seu parceiro? Pouco amado, pois é pouco desejado? É provável que sim. O fato de sentir-se pouco desejado pode levar o homem a um estado de auto estima rebaixada, de tal forma que ele se sinta fragilizado, já que não consegue impor-se como alguém viril, como fonte de satisfação sexual, que inevitavelmente o fará sentir-se fracassado e ansioso. Não há elemento mais dramático para a disfunção erétil do que uma super dose de ansiedade.
Bem, não é nossa intenção, ao virar a moeda para que se possa apreciar sua outra face, eleger outro culpado, mas sim alertar para este aspecto: os casais, sejam eles heterossexuais ou homossexuais, funcionam como uma unidade, e portanto tudo que afeta a um, afeta ao outro, ainda que de forma diferente; é isto que justifica que, nos tratamentos das disfunções sexuais, freqüentemente, seja necessário tratar das relações afetivas que se estabelecem entre os membros do par amoroso.
*Yara Monachesi – Psicóloga, Psicoterapeuta na abordagem fenomenológica, Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Pós Graduada no curso de Pós Graduação Lato Sensu em Terapia Sexual da SBRASH, co-autora do livro ” Psicodiagnóstico: Processo Interventivo” – Editora Cortez 1995. Docente e coordenadora de cursos de pós-graduação do Instituto ISEXP.
http://grupopapeando.wordpress.com/2009/07/22/as-complementariedades-sexuais-ate-onde-isto-vai/

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