domingo, 9 de março de 2014

Travestismo - matéria Letícia Lanz

Travestismo (Crossdressing) e Fetichismo

travestismo (crossdressing), enquanto veículo de expressão da identidade transgênera, é algo totalmente distinto de fetichismo, que se trata de uma parafilia ou seja, de uma forma desviada (perversa) de expressão da sexualidade.
O travestismo propriamente dito, como é largamente praticado por transgêneros, é uma das formas clássicas dessas pessoas expressarem o seu senso de pertencimento ao gênero oposto ao seu ou, em última análise, a um gênero diferente daquele em que a pessoa foi enquadrada ao nascer e no qual não se sente suficientemente confortável. Esse travestismo distingue-se inteiramente do chamado travestismo-fetichista, praticado como forma de excitação e atingimento do clímax sexual.
No travestismo-fetichista o protagonista não dirige o seu impulso sexual para pessoas, mas para objetos, podendo inclusive para isso “converter” partes isoladas do próprio corpo e/ou do corpo do(s) parceiro(s) em fetiches sexuais.ureza fetichista é inteiramente voltado para a obtenção de prazer sexual. Prova disso é que, atingido o orgasmo, o fetichista não tem a menor intenção de permanecer travestido por mais tempo. O travesti-fetichista masculino se utiliza do vestuário feminino unicamente como forma de excitação e satisfação sexual, manifestando necessidade urgente de remover os objetos-fetiche uma vez que o orgasmo tenha sido atingido e haja declínio da excitação sexual.
Um travesti-fetichista típico fica sexualmente excitado quando calça sapatos femininos, lingerie, etc, mas isso não significa que ele se excita com a pessoa que calça o sapato – ou seja, ele próprio -, podendo até mesmo abstrair-se inteiramente da cena por ser capaz de realizar-se sexualmente com o próprio sapato ou com uma simples fotografia ou lembrança dele mesmo vestindo calcinhas. Os objetos-fetiche variam em sua natureza e importância de indivíduo para indivíduo. Calcinhas, meias de seda e sapatos de salto figuram entre os objetos mais utilizados pelos fetichistas. Outros exemplos comuns dizem respeito a objetos femininos que tenham uma textura particular como a borracha, o plástico ou o couro. Em certos casos, o objeto-fetiche serve simplesmente para reforçar a excitação sexual produzida por “vias normais” como, por exemplo, pedir ao parceiro que vista uma dada roupa durante o intercurso.
Embora muitas pessoas transgêneras também reportem alcançar prazer sexual através das suas montagens, nenhuma delas abre mão de continuar travestida (montada) mesmo após atingida alguma forma de orgasmo. Pelo contrário, para o transgênero, qualquer que seja o seu grau de transgeneridade, é sempre penoso abandonar a montagem do gênero oposto.
Três aspectos fundamentais definem a atividade fetichista:
1 – A intencionalidade clara e explícita de busca de satisfação sexual, que faz do fetichismo uma forma de expressão (desviada ou perversa) da sexualidade.
2 – O redirecionamento do impulso sexual, de pessoas, para objetos ou partes isoladas do corpo humano, que faz do fetichismo uma manifestação desviada, inteiramente fragmentária e fragmentada, da sexualidade humana.
3 – A falta de interesse profundo e duradouro pela expressão do gênero que o objeto-fetiche representa, mas tão somente pelo próprio objeto. O fetichista “converte” objetos em “parceiros sexuais”.
O primeiro aspecto que diferencia transgêneros de fetichistas é que os primeiros não se montam tendo em vista principalmente a realização de impulsos sexuais. Esses impulsos poderão até estar presentes, mas nunca de forma única e absoluta, como acontece com o fetichista. Homens Transgêneros se montam (vestem-se de mulher) basicamente como forma de expressão da própria transgeneridade e nunca exclusivamente para se sentir sexualmente excitados, como faz um fetichista. Muitos transgêneros podem sentir excitação a partir de uma montagem – e é até muito comum que realmente sintam – mas, ainda assim, a excitação é apenas um item numa longa lista de propósitos presentes no travestismo (crossdressing) masculimo, onde necessariamente figuram:
1 – A realização (altamente subjetiva, por sinal) da própria “identidade de gênero”, mediante o pleno aprendizado, incorporação e manifestação de padrões socioculturais do gênero oposto.
2 – A interação social na condição de mulher, em diversos ambientes e com os tipos mais variados de pessoas, que vão do verdureiro da esquina ao gerente da repartição em que a pessoa trabalha.
3 – A liberação do trato feminino da personalidade masculina (que Jung chamou de “anima”) e cuja força, uma vez desperta, cobra do indivíduo o mesmo tanto do que lhe oferece em termos de felicidade, crescimento e realização pessoal.
PS – Muitos transgêneros, quando estão montados, sonham encontrar um príncipe encantado – ou uma princesa encantada – dependendo da sua orientação sexual. Mas não há notícia de transgêneros que se enamoram perdidamente por suas calcinhas, sapatos e soutiens, ao ponto de só pensarem numa coisa: – fazer sexo com eles.
http://www.leticialanz.org/travestismo-crossdressing-e-fetichismo/

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